terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Carta aberta ao Sr. Ministro da Educação: Como acabar com o problema da falta de Professores e valorizar a profissão

Exmo. Sr. Ministro da Educação,

Quando um aluno termina o curso quer trabalhar e está disposto a ir para qualquer lado, mas o mesmo não acontece a quem já tem família constituída…

Como acabar com o problema da falta de Professores e valorizar a profissão

Após o levantamento dos profissionais necessários em cada QZP:

1 – No próximo concurso 2023/2024, depois dos lugares preenchidos pelos QA e QZP (continuidade ou mobilidade), EFETIVAR todos os docentes CONTRATADOS que entrarem até à segunda reserva de recrutamento - RR2 (que se candidatarão para zonas que pretendem ir e permite às Escolas completar em grande parte as necessidades) e, logo a seguir, todos aqueles que têm sido colocados nestes últimos três anos (significa que a Escola Pública precisa mesmo deles para funcionar e nessas zonas);

2 – Permitir que os Professores em QZP optem por fixar residência (e tenham um contrato de trabalho alargado ou efetivar mesmo na Escola da colocação, de modo a garantir que valerá a pena comprar casa e fixar-se) ou a possibilidade de continuar a candidatar-se a mobilidade para aproximação à residência (candidaturas anuais ou bienais).

3 – Nas zonas em que se verifique, mesmo assim, falta de docentes, criar apoio nas ajudas de custo, seja através de apoio monetário direto ou através da possibilidade de usufruírem de uma casa (há imensos aparthotéis que ficam desocupados e poderiam ser rentabilizados a preços controlados).

 

Outros procedimentos (atratividade da carreira)

4 – Acabar com as quotas no 5º e 7º Escalões;

5 - Recuperar o tempo de serviço congelado (mesmo de forma parcelada, por exemplo, 2 anos em cada ano letivo…);

6 – Aumento salarial conforme a inflação.

7 – Voltar a dar o voto aos Professores para eleger os corpos diretivos das Escolas.

 

E mais alguns procedimentos (qualidade educativa)

8 – Fazer um levantamento das condições das Escolas no País e intervir nas obras ou equipamento (Há Escolas sem aquecimento nas Zonas onde os invernos são rigorosos…);

9 – Reorganizar a forma de gestão de projetos educativos e adequar de forma equilibrada a cada agrupamento;

10 – Melhorar a forma de comunicação e ajustar os documentos para evitar o quadruplicar de trabalho e informação.

Os pontos a ter em atenção não nos parecem muito complicados, julgamos que se tratará apenas de uma questão de gestão de recursos humanos e uma enorme vontade em contribuir para uma maior estabilidade da Escola Pública. Na verdade, o interesse máximo que uma Nação deveria ter para dar acesso livre e gratuito a todas as crianças e jovens que procuram dar a melhor Educação aos seus educandos.

 Com os melhores cumprimentos,

Pedro Sousa, Professor

 Nota: Carta enviada por email para Direção-Geral da Educação (dge@dge.mec.pt)

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

É preciso criar nichos de programação cultural pelo concelho!

Educação, Cultura e Arte.

As artes não levam a melhor quando se fala em Orçamento de Estado. Há mesmo associações artísticas que tenham visto as suas candidaturas serem rejeitadas pela dgArtes, quando já estavam mais do que enraizadas em comunidades deste país e a fazerem trabalhos de alto nível cultural e artístico. Os apoios ao Desporto são feitos em milhões, enquanto para a Cultura e as Artes são migalhas. E até se compreende que haja um forte investimento no Desporto, pela sua importância no desenvolvimento pessoal, físico e psíquico, mas a Cultura e as Artes não são menos importantes na construção social e humana.

Em pleno século XXI, e com o Governo central a prosseguir a mesma bitola, é essencial que os Municípios percebam que lhes cabe o papel de construtores de comunidades mais saudáveis, mas também mais cultas. Certamente que todos perceberão que uma Câmara Municipal não é uma Escola, mas é com toda a certeza um elemento fundamental no processo educativo. As cartas educativas merecem ser revistas e ampliadas. Incluir o desporto, a cultura e as artes e pensá-la em conjunto com agentes culturais (associações, escolas, empresas…) vai permitir alargar o leque a todo o concelho e com isso envolver mais a comunidade, não só os de tenra idade para criarem hábitos de prática e consumo cultural (teatro, música, cinema, fotografia, escultura, pintura…), mas também aos adultos, que podem seguir passos idênticos, envolvendo-se nas mais diversas manifestações e criar rotinas motivadoras e de elevação pessoal.

Redes concelhias de partilha de produção cultural e artística, à imagem do que acontece com atividades desportivas, ou mesmo na facilidade em contratar artistas e as suas programações, que encontram numa cidade mais do que uma representação, terá de ser um assunto a considerar para colocar um concelho em movimento e constante construção humana.

É preciso repensar a cidade no desporto, na cultura e nas artes!

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

O Estado tem Professores altamente qualificados a preço de saldo!

Sem qualquer dúvida que pouco ou nada adiantará mais aos Professores do que aguardar, calma e serenamente, pelo tempo em que as escolas estejam impedidas de funcionar porque não há ninguém para lecionar. Nem greves, nem gritos, nem remendos à pressa fazem mais parar a queda acentuada da procura pela profissão.

Já o escrevemos que antes era vantajoso começar a dar aulas mesmo sem ter terminado o curso. Agora não! Agora são mesmo os jovens que não querem ser professores…

Mas isto não contraria todo um rótulo de profissão apetecível? Com muitas férias? Com altos salários? Com a qualidade de vida invejável?

Pelos vistos, nem por isso… Onde estará mesmo o problema?

A grande questão reside mesmo no estilo de vida que poucos, mesmo muitos poucos, estão dispostos a suportar. Deixar a sua residência e sua família, durante a semana, e ter de suportar uma despesa acrescida com renda e viagens. Fazer quilómetros todos os dias. Apostar sistematicamente em Formação Contínua, aplicar-se em grandes projetos e aulas assistidas para no final se contentar com uma avaliação mínima, porque o sistema de avaliação é por cotas… o que impede de evoluir na carreira e ganhar pouco mais do que o salário mínimo.

Como se não bastasse tudo isto, um Professor, que coloca todo o seu conhecimento ao dispor da Escola que o contrata, mesmo que tenha um Mestrado ou Doutoramento, não vê a sua aposta em formação superior, altamente qualificada, reconhecida, só porque tirou os cursos antes de ingressar na carreira docente, ou seja, era contratado e isso implicava um despedimento a cada 31 de Agosto.

O Ministério da Educação, assim como o grupo parlamentar que o suporta, não estão dispostos a atribuir incentivos aos professores que ainda arriscam centenas de quilómetros para colmatar a falta de professores. Também não aumentam salários aos mais novos, aliás como fora indicado pela OCDE. Não contabilizam a aposta dos seus profissionais em cursos de especialização, como se o mesmo mestrado ou doutoramento valesse menos cientificamente só porque o professor não era dos quadros quando o frequentou.

São muitas as razões para dizer que o Professor é um privilegiado, mas nem isso faz aumentar a sua procura…

Aos Professores só resta mesmo esperar, calma e tranquilamente, até que a sua falta seja tão óbvia que faça parar a sociedade, porque os pais não têm onde deixar os seus filhos para ir trabalhar, enquanto são formados por profissionais qualificados, e até que o Ministério perceba que tem mesmo de valorizar logo os professores contratados para que estes queiram ingressar na carreira. Mas este ingresso implicará salários condignos e reconhecimento das suas habilitações académicas como qualquer empresa que contrata profissionais com Licenciatura ou já com Mestrado e Doutoramento.

sábado, 29 de outubro de 2022

Se a empresa onde trabalhas te pagasse o mesmo e te mandasse para Lisboa ou Algarve, tu ias?

 A maioria das pessoas não conhece, e nem tem de conhecer, como funcionam os concursos de Professores. Daí que se ouçam muitos comentários, quando alguém se queixa de ter de fazer inúmeros quilómetros para trabalhar e não tem ajudas de custo.

Lia esta semana o seguinte comentário: ‘eu também vou trabalhar para o Porto todos os dias e não tenho ajudas de custo’.

Ora lá está… Alguém que parte do princípio que as profissões são todas iguais e ganham todos da mesma forma…

Mas vamos lá colocar isto de outra perspetiva: Se o teu patrão te dissesse que todos os anos tinhas de ir para uma cidade diferente do país, de norte a sul, e pagava-te o mesmo ordenado, tu ias?

Os alunos passam mais horas na Escola do que os pais a trabalhar!

 Estarão os métodos de ensino mesmo desajustados da realidade?

Há uns anos a esta parte parece que só era considerado bom professor quem enveredasse por usar muitos recursos digitais. As reuniões eram todas à volta de mais um projeto lançado às feras e lá apareciam as célebres frases feitas: ‘é o que os jovens querem…’. Como se de repente o que se tinha feito durante anos a fio não fizesse mais sentido e as investigações de pedagogia perdessem total credibilidade.

“Manuais digitais afinal podem prejudicar a aprendizagem dos alunos” foi um dos títulos que mais me despertou a atenção na comunicação social durante o fim de semana. Não consegui mesmo ficar indiferente. Afinal, a tão endeusada tecnologia parece não ter assim tantos benefícios, pelo contrário, até pode mesmo ser prejudicial. Mas era preciso tanta coisa para perceber isto? Não servirão de nada os ensinamentos que temos de tantos mestres de renome internacional quando nos apresentam os seus cadernos riscados e os esboços em carvão?

A tecnologia é importante, sim, mas para auxiliar. Nunca substituir o lápis e o papel. Quer pela destreza de raciocínio, quer pela questão motora. Um bom Arquiteto faz sempre o esboço antes de qualquer projeto no digital. Um escritor também…

Mas o que realmente leva à desmotivação dos jovens?

O segredo está nos Professores Contratados

 O problema das Escolas e da falta dos professores está nas bases e só avançará com uma verdadeira aposta na melhoria de condições aos professores contratados.

 

Afinal, não basta autorizar todo mundo a dar aulas... é preciso valorizar a profissão: Aumento de salário, ajudas de custo a professores deslocados a mais de 50 km, progressão na carreira sem avaliações por quotas. Se é excelente não é muito bom e se é muito bom, não é bom! Onde já se viu uma Escola só ter um Excelente para atribuir, dois muito bons e o resto bom ou por aí abaixo?

Se três alunos tirarem excelente, o professor não vai dar a nota só a um, tem mesmo de a dar aos três. Por que não é assim na avaliação dos Professores? Fácil, assim só sobe de escalão o excelente e são mais uns milhares de euros retidos… Isto cabe na cabeça de alguém?

A Escola está desatualizada?

 Será mesmo? Ou isso acontece se não se refletirem nos conteúdos?

Se trabalhar Saramago, Memorial do Convento, claro que tenho de orientar os alunos para a obra e sua estrutura. Há uma análise dos conteúdos estilisticamente, mas para mim é obrigatório colocar os alunos a refletirem e discutirem sobre os assuntos abordados e a sua aplicabilidade atual. Muitas vezes acabamos a uma análise mais profunda na sociedade atual, mas cabe-me a mim ir gerindo de forma a comparar com a obra, o que torna depois as sucessivas análises bem mais fáceis e, talvez, mais importantes. Ou seja, a escola clássica não estará tão desajustada, apenas precisa de afinações sérias e ajustadas...

A minha Faculdade preparou-me para pensar e fazer pensar, eu sei que muitos não o fazem. A questão é o ensino tradicional ou os professores tradicionais? Os que seguem apenas as indicações dos manuais?

Se os Professores fossem a Brigada de Trânsito… chumbava tudo!

 As atitudes ficam com quem as pratica, é bem verdade, mas andar a ‘pregar’ valores de cidadania aos jovens nas Escolas de pouco ou nada adianta se o mesmo Estado que tutela os Professores, dando orientações para que o ensino insira as aprendizagens essenciais com o objetivo de capitalizar todos os esforços e nenhum aluno saia excluído, é o mesmo que tutela a Brigada de Trânsito e lhes permite que se escondam em carros descaracterizados numa autêntica caça à multa.

Onde estão os valores da cidadania aplicados à sociedade?